A Igreja e a cidade
Ao se pensar na ação da igreja urbana, tem-se que pensar na salvação da cidade. A igreja atual é chamada a olhar a cidade como local da sua missão, percebê-la como casa daqueles por quem Jesus morreu para promover vida.
À medida que se observa que a vida garantida por Deus está sendo negada ao povo, há de se buscar diretrizes que orientem a caminhada da Igreja, rumo a construção de uma Cidade Justa, possibilitando que a vida seja plena e isso através da encarnação do Evangelho de Cristo até que o ser humano tenha plenas condições de relacionar-se com Deus e com o próximo em amor e justiça, desfrutando de todos os benefícios que a vida na cidade pode oferecer.
Enquadrar-se como espaço onde o ser humano tenha acolhida e força motivadora para a conquista de sua cidadania e vida plena garantida por Jesus Cristo, certamente colocam-se como desafios para a pastora da igreja. Para tais responsabilidades, a Igreja Brasileira deve assumir paradigmas que sustentem e inspirem sua atuação na cidade, colocando-se como tentativa de contribuir no processo de construção da Cidade Justa.
O texto de Isaías 1:21-26 que se encontra na Bíblia deve ajudar a Igreja Brasileira a ver que sua pastoral urbana deve ser libertadora e deve, necessariamente, começar pela percepção profética da realidade de nossas cidades que compõem o Brasil. Cria espaço para formular estratégias pastorais dando não somente a critica ácida e destrutiva, mas a que traz esperança, também profética, do perdão e da renovação efetuada por Deus, em benefícios dos Seus.
A igreja necessita em sua pastoral chorar a inexistência de uma cidade justa. Manter-se em descontentamento com a crise instaurada em nossos dias, tornando-se cúmplice e co-responsável da lógica opressora que assola nossos dias.
A atitude profética, enquanto voz de uma classe desfavorecida deve inspirar e fundamenta a pastoral urbana. Em nosso País, a situação atual não muito diferente.
As nossas cidades são um palco de violência, roubo e injustiça. Vive-se um sacrifício diário de milhares de pessoas pobres que, na maioria das vezes, não tem mais a estabilidade garantida pelas famílias e se vêem sozinhas no caos injustiçado pela ideologia capitalista que concentra muitos bens nas mãos de uma minoria, desprezando e oprimindo a maioria, desprezando e oprimindo a maioria.
Nessa política de roubos, violência e injustiça, a postura da igreja pastora na cidade deve ser aquela do profeta denunciar os agentes da opressão, postar-se ao lado daqueles que tem sido marginalizados na cidade, obrigados a morar em cortiços, favelas e nas ruas da cidade, roubados no direito e na justiça; deve dar-lhes sentimento de pertença, colocar-se como uma comunidade que encarna suas lutas e rompe com o egoísmo da elite.
Isaías acredita na possibilidade de restauração da cidade. Esta é uma esperança que deve alimentar a pastoral da igreja na cidade. Deve-se evitar uma abordagem negativista, que não vê possibilidade de restauração.
A certeza de Deus em nossa luta deve inspirar a igreja a formar comunidades que confrontem as forças e faça com que se rendam. O protesto é legitimo e deve ser levado a frente. Os governantes corruptos que comprometem a vida e a justiça social devem ser afastados de seus cargos. Seus substitutos devem ser pessoas que levem a sério a luta do povo, governantes que direcionem seu labor na construção de uma Cidade Justa.
Daí a importância da Igreja aprender a votar nas urnas escolhendo pessoas que realmente apresentem planos a população de vida digna; a importância da igreja acompanhar e cobrar as prestações de constas dos governantes para que se tenha uma avaliação correta do tipo de justiça e dignidade que esses estão plantando na terra Brasil.
A igreja deve estimular na vida de seus adeptos a procura por meios que confrontem as lideranças políticas, econômicas e sociais que pervertem o direito e excluem grande parte das pessoas, sofredoras, em busca de sobrevivência, da plenitude da vida social e do conhecimento dos direitos adquiridos.
A voz do profeta Isaias deve ecoar na voz da Igreja de hoje. Urge que se busque a construção da Cidade Justa, lugar onde a justiça possa passar a noite; ambiente em que o direito permeie todas as relações. Esta deve ser a utopia da igreja pastora em terras urbanas, sonho que podemos sonhar com Deus, pois o seu interesse é que a vida seja abundante.
Não se pode cair num negativismo que gere estagnação, mas deve-se, enquanto igreja, participar das lutas do povo, pois são legítimas, conscientizá-lo de seus direitos, e dar-lhes a grata noticia que Deus está do lado dos que clamam por justiça.
É tempo de bradar contra os líderes que se vendem e anunciar um novo tempo em que os líderes sejam resultado da intervenção de Deus e da participação democrática e consciente.
Concluindo, a pastoral da Igreja brasileira deve tentar incansavelmente abrir caminhos que visem à construção de uma cidade e sociedade justa por vias de uma visão correta da Palavra de Deus que leve em conta os desafios citadinos. Deve empreender o esforço de concretizar o Reino de Deus, de trazer as cidades o amor e a vida plena que Deus oferece.
“As opiniões e textos aqui publicados são de total responsabilidade dos autores”
autor(a)
Fernando Cintra
Pastor, Doutor Fernando de Oliveira Cintra. Bacharel em Teologia pela Universidade Batista do Sul do Brasil; Bacharel e Licenciatura em Pedagogia pelo Mackenzie, SP – administração escolar, psicopedagogia e magistério; Doutorado em Teologia pela Faculdade Latino-Americana; Pós- Doutorando no Füller – EUA extensão América Latina na área de crescimento de igrejas; Curso de Capelania no Hospital Evangélico, no Rio de Janeiro em convênio com o STBSB;