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Promessas feitas a Abraão cumprindo-se em Cristo

Pensativo a respeito de como se dará o cumprimento da promessa relacionada a Terra Prometida, debrucei-me sobre as Escrituras em…

Pensativo a respeito de como se dará o cumprimento da promessa relacionada a Terra Prometida, debrucei-me sobre as Escrituras em busca de resposta. Segue algumas considerações a respeito.

Um texto que me chamou bastante a atenção foi Hebreus 11.9-10, que claramente diz que Abraão, Isaque e Jacó habitaram em tendas na Terra Prometida de Canaã, considerando-a como terra alheia, porque nutriam a esperança de uma outra espécie de terra prometida, de caráter celestial, cujo arquiteto e construtor é o próprio Deus; O que nos faz lembrar das palavras de Jesus que disse aos discípulos que deveria subir aos céus para construir nossa definitiva habitação! Portanto, para o autor de Hebreus, a esperança dos patriarcas quanto a terra prometida é a mesma da Igreja: “Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3.20).

Por isso é que o autor de Hebreus arremata a questão dizendo: “Todos estes morreram na fé, sem ter obtido as promessas; vendo-as, porém, de longe, e saudando-as, e confessando que eram estrangeiros e peregrinos sobre a terra. Porque os que falam desse modo manifestam estar procurando uma pátria. E, se, na verdade, se lembrassem daquela de onde saíram, teriam oportunidade de voltar. Mas, agora, aspiram a uma pátria superior, isto é, celestial. Por isso, Deus não se envergonha deles, de ser chamado o seu Deus, porquanto lhes preparou uma cidade” (Hb 11:13-16). De modo que as Escrituras do Novo Testamento não vêem as promessas da Terra Prometida encontrando um cumprimento terreno, mas celestial: “Pela fé, peregrinou na terra da promessa como em terra alheia, habitando em tendas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa; porque aguardava a cidade que tem fundamentos, da qual Deus é o arquiteto e edificador” (Hb 11:9-10 ).

Outro texto bastante esclarecedor é o de Paulo, em Romanos 4.13, que diz: “Não foi por intermédio da lei que a Abraão ou a sua descendência coube a promessa de ser herdeiro do mundo, e sim mediante a justiça da fé”. Onde se vê que a promessa da terra é uma profecia que diz respeito aos descendentes espirituais de Abraão, judeus e gentios crentes em Cristo, herdeiros de todo o mundo renovado e celestial, uma nova terra, uma nova Jerusalém, ou seja, uma nova Canaã!

Assim como nosso corpo se revestirá de características celestiais e incorruptíveis, assim também acontecerá com a terra, que se revestirá do céu, numa espécie fusão, passando pela purificação do fogo! Não é à toa, que toda a criação geme e aspira a redenção (Rm 8.21). Por isto o céu é também chamado de Nova Jerusalém, nossa “terra” prometida que terá Jesus como o nosso sol (Ap 22.5), e também é dito que: “a cidade não precisa nem do sol, nem da lua, para lhe darem claridade, pois a glória de Deus a iluminou, e o Cordeiro é a sua lâmpada. As nações andarão mediante a sua luz, e os reis da terra lhe trazem a sua glória. As suas portas nunca jamais se fecharão de dia, porque, nela, não haverá noite. E lhe trarão a glória e a honra das nações. Nela, nunca jamais penetrará coisa alguma contaminada, nem o que pratica abominação e mentira, mas somente os inscritos no Livro da Vida do Cordeiro” (Ap 21:23-27).

Notar tratar-se da descrição da Nova Jerusalém celeste, onde o sol já não existe mais como o conhecemos, e observe também que as nações ali trarão a glória e a honra a Jesus, mas devemos lembrar que a Nova Jerusalém desce do céu após o Juízo Final, portanto, a descrição aqui das nações louvando a Deus não pode estar se referindo a um milênio na terra, pois trata-se de uma nova terra que é celestial. O primeiro céu e a primeira terra passaram e eis que tudo se fez novo! Nações aqui significam os remidos de todas as nações que habitarão na Nova Jerusalém. Veja que é dito que somente os inscritos no Livro da Vida do Cordeiro é que tem o direito de habitar nesta morada celestial.

Ainda sobre Romanos 4, observe que a promessa da Terra é para toda a descendência de Abraão, o que inclui os gentios que são filhos da fé ou filhos da promessa e não somente de judeus que receberam a lei de Moisés (Rm 4:16-17). Paulo afirma que é através dos filhos espirituais de Abraão que se cumpre a promessa de que Abraão seria pai de muitas nações (Rm 4:17).

“Sabei, pois, que os da fé é que são filhos de Abraão. Ora, tendo a Escritura previsto que Deus justificaria pela fé os gentios, preanunciou o evangelho a Abraão: Em ti, serão abençoados todos os povos. De modo que os da fé são abençoados com o crente Abraão” (Gl 3:7-9).

Aprendemos com Paulo que as promessas feitas a Abraão pertencem ao seu descendente que é Cristo e nEle se cumprem: “Ora, as promessas foram feitas a Abraão e ao seu descendente. Não diz:E aos descendentes, como se falando de muitos, porém como de um só:E ao teu descendente, que é Cristo” (Gl 3:16).

Lembrando que, quando Abraão esteve prestes a sacrificar o filho da promessa, Deus interveio, provendo o Verdadeiro Filho da Promessa, o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo! O descendente que pisaria a cabeça da serpente, cumprindo a promessa feita a Adão, pai da humanidade.

Paulo conclui o capítulo 3 de Gálatas reafirmando que as promessas foram destinadas ao descendente por excelência de Abraão que é o Cristo (v. 19) e diz que tais promessas são extensivas a todos os que crêem em Cristo: “Mas a Escritura encerrou tudo sob o pecado, para que, mediante a fé em Jesus Cristo, fosse a promessa concedida aos que crêem” (Gl 3:22).

A Igreja é a manifestação do remanescente de Israel. Notar que o primeiro gentio a se converter foi Cornélio. O que vale dizer que a Igreja era composta originariamente de crentes judeus, pelos remanescentes de Israel (Rm 2.28,29; 3.3,4; 9.6-8,27,29; 11.15), os gentios foram acrescentados nesta mesma oliveira. Há muito mais continuidade do que descontinuidade (Ef 2.18-20; 3.6; Gl 3.6-29). Não houve mudança no plano de Deus (Ef 1.3-4), mas revelação progressiva (Gl 6.16; 3.13,14).

O Verdadeiro Israel é aquele que possui o Messias. Cristo é a Videira verdadeira (Jo 15.1), a videira é símbolo notório de Israel. O verdadeiro herdeiro de Abraão é o que tem fé no Messias prometido (Gl 3). É não é sem propósito que o número de apóstolos da Igreja é idêntico ao número de tribos de Israel.Paulo não diz que Deus mudou o seu plano original, antes, ele afirma que a Igreja sempre foi o plano de Deus (Ef 3.4-6, 21, 26, 31; Gl 3.8, 16; ver também Gn 3.15). O N.T. ensina que a lei, a circuncisão e a própria nação de Israel foram sombras da realidade que se encontra na Igreja (Cl 2.17; Hb 10.1; Ef 1.22,23). Israel era um tipo da Igreja; a terra um tipo do céu; a circuncisão um tipo do novo nascimento e do batismo; a lei um tipo e um aio para o evangelho e o templo um tipo do “Corpo de Cristo” ( Hb 8.5; 9.9, 24; 10.9,16,19-21; 11.9-16,39,40; 12.18-24; 13.10-14; Cl 2.11,12). Os cristão são chamados de “eleitos de Deus” (Rm 9.33). A Igreja foi profetizada no A.T.: (Jo 8.56; At 3.22-24; 1 Pe 2.9 comparar com Ex 19.5,6; Hb 2.12 comparar com Sl 22.22).

Em Romanos 11, Paulo fala sobre o futuro do remanescente de Israel. E nenhuma palavra é dita sobre o retorno a terra ou a reconstrução do templo e restauração do ritual levítico. Todas as profecias concernentes ao retorno de Israel para a terra e a reconstrução do templo foram feitas antes de 516 a.C., ano em que o templo foi reconstruído. Não existe nenhuma profecia mais a este respeito após 516 a.C., nem no A.T. e nem no N.T. Por exemplo, o livro de Malaquias não menciona, em momento algum, uma expectativa de retorno a terra e reconstrução do templo, pois, evidentemente, entendia que as profecias neste sentido tinham tido o seu cumprimento no ano de 516 a.C. Mas em Rm 11, Paulo fala de um retorno de Israel para Cristo e não para a Palestina.

Nenhuma palavra é dita sobre Israel ser salvo após o “arrebatamento”. Paulo se inclui entre os remanescentes de Israel que serão salvos (Rm 11.1); Todos os israelitas crentes serão salvos. Em nenhum lugar encontramos base para a crença de que haverá uma segunda chance de salvação para os homens quer sejam judeus ou gentios após o arrebatamento da Igreja (Mt 25).

A herança de Abraão é uma pátria celestial (Hb 11.8,13-16, 39,40; 1 Pe 1.4). As expectativas judaicas se cumprem em Cristo (Lc 1.54, 55,68-74). A primeira vinda de Cristo completou a redenção de Israel e “tantos quantos o receberem foi lhes concedido o poder de se tornarem filhos de Deus” (Jo 1.10-12).

Por esta razão é que os gentios se tornaram co-herdeiros com Cristo de todas as promessas feitas a Abraão! “Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com ele sofremos, também com ele seremos glorificados” (Rm 8:17). E tais promessas, principalmente aquelas que dizem respeito a terra, encontram um cumprimento que vai muito além do território da Palestina, abrangendo o mundo todo (Rm 4.13) e vai muito além desta vida e do mundo material, mas invade a eternidade e é revestida da glória celestial.

Os crentes, judeus e gentios, já estão espiritualmente ressuscitados e assentados juntamente com Cristo nos lugares celestiais, ou seja, ao lado daquele que tem todo o poder no céu e na terra e vive e reina do seu alto e sublime trono, acima de todo o principado e potestade (Ef 2:6), e por isto é dito que os crentes já tem “chegado ao monte Sião e à cidade do Deus vivo, a Jerusalém celestial, e a incontáveis hostes de anjos, e à universal assembléia e igreja dos primogênitos arrolados nos céus, e a Deus, o Juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados” (Hb 12:22-22). A vocação deles é celestial: “Por isso, santos irmãos, que participais da vocação celestial” (Hb 3:1).

A esperança do cristão judeu, Paulo, também é a de um reino celestial e não milenar aqui na terra: “O Senhor me livrará também de toda obra maligna e me levará salvo para o seu reino celestial” (2 Tim 4:18). “E, por isso, neste tabernáculo, gememos, aspirando por sermos revestidos da nossa habitação celestial” (2 Co 5:2 cf. Rm 8:21).

Espero ter sido capaz de demonstrar que as promessas feitas a Abraão foram destinadas a um descendente em especial que é o Messias. A própria Terra Prometida está sendo preparada por Cristo e se destina a todos os judeus e gentios que creem em Cristo. Os da fé são os verdadeiros descendentes de Abraão e herdeiros da promessa, co-herdeiros juntamente com Cristo.

No amor do Senhor,

Ildo Mello

 

“As opiniões e textos aqui publicados são de total responsabilidade dos autores”

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Ildo Mello

Ildo Mello

José Ildo Swartele de Mello é bispo do Concílio Geral Brasileiro e presidente mundial do Concílio de Bispos da Igreja Metodista Livre. É o atual presidente da Fraternidade Wesleyana de Santidade e pastor da imel de Mirandópolis.

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