Resgate não é gospel, afirma Zé Bruno
Vocalista da banda diz que deseja “se livrar do rótulo”
Com quase 30 anos de carreira e 15 discos lançados, a banda Resgate foi uma das pioneiras do movimento musical que na década de 1990 ganhou o rótulo de “gospel”. O motivo para que praticamente todos os artistas que faziam música com letras cristãs, independentemente do estilo, fossem chamados assim é por que a maior gravadora da época se chamava “Gospel Records”.
Ligada à Igreja Renascer em Cristo, do apóstolo Estevam Hernandes e a bispa Sônia, os artistas contratados pela gravadora tinham espaço garantido nas Marchas para Jesus, promovidas pela igreja em São Paulo e que depois tornaram proporções nacionais. Suas músicas também tocavam na Rede Gospel de rádio, antiga Manchete, também da Renascer.
Passadas duas décadas, os mais variados estilos musicais de artistas evangélicos no Brasil ainda são chamados de “música gospel”. Em entrevista ao canal do Youtube Dois Dedos de Teologia, Zé Bruno, vocalista da banda Resgate, afirmou que não gosta que sua banda seja chamada assim.
“A gente faz rock”, disse ele a Yago Martins, deixando claro que “A minha tentativa é me desvincular desse rótulo”. Pastor da igreja Casa da Rocha, em São Paulo, Zé Bruno esclareceu que “A cosmovisão aonde eu componho as canções é a cosmovisão cristã. A lente pela qual eu leio tudo o que eu vejo é o evangelho. As respostas que eu tenho para o que eu vejo na sociedade estão no evangelho”.
Porém, assegura ele, “eu não preciso ser gospel para fazer isso”. Com a autoridade de quem fez parte desse movimento musical desde o início, afirma que acabou virando “um segmento de mercado” e isso o decepcionou.
“Eu percebi que não era isso. Obviamente que as pessoas ouvem você falar que não é gospel, as pessoas vão achar que está com o capeta incorporado… Mas é uma coisa muito difícil”, avalia. O músico faz uma retrospectiva da carreira e destaca que “Quando o Resgate começou, ainda era meio misturado o jeito de falar de Cristo… Se você pegar os 15 discos lançados pela banda, não vai encontrar um grupo de louvor e adoração”.
Como líder de uma igreja local e ao mesmo tempo músico, ele explica que tem uma percepção um pouco diferente sobre o louvor. “Eu não faço música para louvar a Deus, por que Deus não precisa que eu cante para que ele saiba que eu o louvo”, enfatizou.
Zé Bruno defende que, na sua perspectiva teológica, “a minha vida é um louvor. Tudo o que eu faço é um louvor. O jeito como eu trabalho, como eu me relaciono com as pessoas, como educo os meus filhos…. tudo o que faço é pra glória de Deus… A música que eu faço também glorifica a Deus”. O pastor faz questão de deixar claro que, “Deus não fica esperando eu ir na igreja para louvar a Ele”.
Avaliando o cenário da chamada “música gospel” no país, o vocalista do Resgate diz que ela deixou de ser vertical – apontando para Deus – e passou a ser horizontal, apontando para o próprio ser humano, do tipo “Eu vou ganhar, eu vou ser….”
“Eu não canto para Deus, eu canto sobre Deus para alguém. Quando eu faço uma música… não estou pensando em Deus, estou pensando em quem vai ouvir”, assegura Zé Bruno. O veterano teceu críticas ao que ele chama de “hipocrisia” de alguns artistas gospel.
“Eu faço pro Senhor, não faço pra mercado”, ele dizem. “Então por que você vende essa porcaria que você compôs, seu hipócrita?”, questiona o pastor, lembrando que muitos ainda ficam pagando para impulsionar nas redes sociais.
Em tom de desabafo, Zé Bruno diz que criou “uma certa aversão a esse cenário”. Ironizando, assevera: “Nem todo mundo que tá no gospel é assim, só uns 99%”. Sendo assim, ele finaliza dizendo que a banda Resgate está decidida a “sair desse aquário” tentando alcançar pessoas que não gostam de escutar música gospel.
“A gente se torna reis e popstars dentro de um mundico, onde as coisas que se fala só fazem sentido ali dentro e não tem um pingo de relevância do lado de fora”, critica.
Assista a entrevista na íntegra: