Quando a família precisa de cura?
Repensar a família, é buscar oportunidades nos desafios que se nos apresentam todos os dias na vivência do lar. Quero começar a minha reflexão a partir de algumas definições de família.
O escritor F. Bastos de Ávila em seu livro “Introdução à Sociologia” diz: “A família é o único fenômeno social, além do fenômeno religioso, que se encontra em todos os tempos e em todas as culturas”.
No plano de Deus a família é uma ordem da criação (Gn 1:26-31; 2:18-25).
A família é uma economia sócio comportamental ideal. Não existe outra que se possa comparar, ou seja, ela é a origem de tudo o que se possa pensar sobre relacionamento inter-pessoal.
Para os judeus, a família sempre foi o agente integrador de grupo, o estabilizador emocional, e o corretivo psicológico. Eis a razão porque para eles, preservar a família, era preservar a pureza do seu povo, da sua nação.
A família é o lugar privilegiado em que se inicia a educação e o exercício da fraternidade e da solidariedade em suas múltiplas formas. Aquilo que se aprende na experiência familiar, permanece por toda a vida. Não existe uma outra oficina, que se possa comparar à família, na modelagem do caráter do individuo.
Além desta função, a família também serve como moderadora da ordem social. É nela que todos são chamados para servir. É nessa convivência que aprendemos que: “quem não serve não serve”.
A família também é o centro de promoção e laboratório do desenvolvimento cultural, social e humano pela sua própria vocação.
Observe que tudo começa a partir da família. No caso da família cristã, sua função é desenvolver as virtudes do homem em sua tríplice dimensão: cultural, espiritual e material.
Deus criou a família com propósitos bem claros, procriação, recreação, unificação e glorificação. Quando a família vive para cumprir os propósitos de Deus, ela se torna o lugar da manifestação da sua glória. Isso nos ajuda a compreender o porque a presença de Deus na família é imprescindível. Bernardino Conte disse: “A grandeza de Deus, compensa a pequenez do homem, está é a razão pela qual d’Ele não se pode prescindir”. O salmista escreveu: “Se o Senhor não edificar a casa, em vão trabalham os que a edificam…” (Salmo 127.1a) Se faltar tudo na casa, mas preservarem a presença de Deus, do nada Ele pode chamar tudo a existência.
Se a família é um projeto de Deus e existe para a sua glória, qual a resposta que daremos às pessoas que freqüentemente perguntam: “Por que famílias de pessoas boas fracassam? Por que bons casamentos terminam em divórcio? Como prevenir o adoecimento do relacionamento familiar? Quais são os sintomas que revelam que a família está doente?
Na parábola do filho pródigo Jesus desenhou uma família que precisava de cura.
Apesar de ser um pai que todo filho gostaria de ter, a sua família estava doente.
I. Quando a família precisa de cura?
1. Quando em nosso coração há uma desvalorização daquilo que ontem era precioso e de muito valor. (Ap 2.4)
· O pai se torna descartável.
· O lar perde sua importância.
· O irmão se torna dispensável.
O filho pródigo vendeu barato tudo isso, o pai, o irmão, o lar etc… Eis a razão porque o divórcio é a apostasia do amor. Porque é a rejeição daquele(a) que um dia foi apaixonadamente desejado. Eu preciso sempre estar fazendo um auto-exame para conferir se o que tinha muito valor para mim ontem continua tendo o mesmo sentido, o mesmo valor.
2. Quando o desejo de ir embora é maior do que o desejo de ficar, mesmo sem ter um motivo aparente. O que o filho pródigo tinha?
· ele tinha um campo, v.25
· estava cheio de novilho, v.30
· tinha uma casa para qual ele voltava no final do dia, v.25
· ele tinha amigos, v.29
· ele tinha empregados, v.26
· ele tinha acesso a boa música, v.25
Ele tinha proteção, conforto, amor, segurança, perdão, festa, mesa farta, carinho… Por que ele saiu? Por que ele foi embora? E porque tantos vão embora sem um motivo certo? A Bíblia, diz: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá? Quando Jesus disse vigiai, era para vigiar o coração. Nada é tão perigoso como o nosso próprio coração. O filho pródigo foi traído pelo próprio coração. Sansão foi traído pelo seu coração. Davi foi traído pelo seu coração. Está escrito em Pv 4.23 “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as fontes da vida”.
3. Quando começamos a desejar “a morte do outro”. “…pai, dá-me a parte a parte que me cabe dos bens…” (Lc 15.12)
Pedir a herança antes da morte do pai era desejar que ele morresse. Quantos maridos, esposas, filhos e pais vivem pensando e até dizendo: “Que bom se ele(a) morresse”. Há pessoas que até ora, Senhor prepara e leva meu cônjuge, meu pai, meu filho, meu irmão etc.
4. Quando dentro da família a festa do outro incomoda. “Ele se indignou e não queria entrar; …” (Lc 15.28) No coração do irmão mais velho havia quatro fortalezas que precisam ser derrubadas na família.
- A fortaleza da inveja.
1- A inveja não me deixa entrar na festa onde eu não sou o “centro das atenções”. A inveja é o mal de muitos lideres que não aceitam o sucesso na vida do outro. Há pessoas que só valorizam a “festa” que ela promove ou que promovem para ela.
2- A inveja nos leva a amar o irmão quando o mesmo está na “pior”, mas, passamos a odiá-lo quando ele esta celebrando uma grande vitória. Há pessoas que são capazes de chorar com os que choram, mas não são capazes de se alegrar com os que se alegram. Você sabia que há aqueles que “amam” você quando você está sofrendo, e que o “odeiam” quando você está feliz? (Ilustrar com o vaga-lume e a cobra).
3- A inveja pode nos levar a investir contra a festa do outro.
4- A inveja sempre diz: “Se fosse eu seria muito melhor…”
5- A inveja deforma, ela pode fazer um “querubim ungido” se tornar “um anjo caído”, foi isso que aconteceu com satanás.
6- A inveja não deixa o invejoso participar da festa que Deus está patrocinando.
Thomas Brooks disse: “A inveja tortura as afeições, incomoda a mente, inflama o sangue, corrompe o coração, devasta o espírito; e assim se torna, ao mesmo tempo, torturadora e carrasco do homem”.
- A fortaleza da vingança.
O grande problema do irmão mais velho da parábola, era sua dificuldade para perdoar.
1- Ele não concordou com o perdão do pai. Na sua opinião aquela era uma oportunidade para o pai se vingar e não perdoar.
2- Ele não estava disposto a perdoar. Para ele, aquele que afrontou o pai e saiu de casa, já não merecia ser considerado seu irmão, por isso ele disse: “… aquele seu filho…”
3- Quem não perdoa sempre fica para o lado de fora da festa. Faz da vida um funeral que nunca acaba.
Um dia um pastor me disse: “Eu fui em determinada casa, quando me encontrei com uma certa pessoa descobri que ainda não tinha perdoado como ensina as Escritura”.
- A fortaleza da amargura.
Quem não perdoa faz do coração um poço de amargura.
1- Pessoas amarguradas são “tóxicas”. Elas sempre tentam estragar a festa no coração do outro. O filho mais velho ao lançar no rosto do pai os pecados do filho que voltou, tentou provocá-lo para estragar a festa. “…vindo, porém, este teu filho que desperdiçou os teus bens com meretrizes, tu mandaste matar para ele o novilho cevado”. (Lc 15.30)
2- Pessoas amarguradas passam a vida reclamando de um “cabrito”, quando se tem um rebanho para usufruir. “…nunca me deste um cabrito…” (Lc 15.29) Os convidados estavam comendo churrasco e celebrando a vitória e o moço lá fora falando do “cabrito”. A amargura é a raiz que dá origem à toda murmuração. Joice Mayer disse: “Murmure e não saia do lugar, louve e Deus te exaltará”.
3- Pessoas amarguradas são mal humoradas. “Ele se indignou (ficou zangado) e não queria entrar… (na festa)”. (Lc 15.28 – Grifo do autor).
4- Pessoas amarguradas não conseguem enxergar o que tem, por isso vivem como se não tivessem. “…tudo o que é meu é teu…” (Lc 15.31).
II. Quando a cura aconteceu nesta casa.
1. Quando aquele que se perdeu se encontrou consigo mesmo caindo em si. (Lc 15.17). Toda mudança passa pelo reconhecimento, e o reconhecimento leva ao arrependimento.
– Reconhecimento. Reconheceu que foi estúpido, precipitado, ingrato, desonrou, entristeceu, machucou, marcou etc….
– Arrependimento: Tristeza pelo pecado, confissão do pecado e abandono do pecado.
2. Quando se tem a coragem de colocar para fora o que está envenenando a alva. O filho mais velho colocou para fora o que estava o matando dentro de casa. Na sua ignorância ele fez aquilo que pode desencadear um processo de cura. Ele jogou para fora toda sua.
– Inveja
– Vingança
– Amargura
– Descontentamento com o pai.
Será que nós pais sabemos como vai o coração de cada filho? Será que por detrás do silêncio dos nossos filhos não há uma alma em estado de angustia, amargura e dor? Essa conversa franca e honesta pode desencadear um processo de cura. Não adianta entrar na festa, manter a fachada e continuar morrendo por dentro.
3. Quando alguém escolhe ser o “agente de transformação” da casa.
– O pai não desistiu da família como um projeto de Deus.
– O pai não desistiu do filho que se rebelou e foi embora. (Esperou, recebeu, perdoou, restituiu e celebrou.)
– O pai não desistiu do filho mais velho que estava cheio de amargura. Como o pai cura o filho infeliz:
Primeiro: Chama-o de filhos;
Segundo:Lembra a intimidade, tu sempre estás comigo; ás comigo;
Terceiro: Ele mostra a herança – “…tudo o que é meu é teu…”. Não viva como escravo sendo filhos.
– O pai escolheu ser o canal da “graça” dentro daquela casa.
– O pai sabia que o perdão era o caminho para curar a família. Não existe outro caminho que leva a cura de uma família a não o do perdão.
Fonte: Folha Gospel