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Eleições 2018: Bancada evangélica cresce, mas metade não consegue reeleição

Congresso Nacional

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A ira popular com os “políticos de sempre” não poupou a bancada evangélica. A onda que drenou o Congresso de seus quadros tradicionais reduziu a atual composição da frente à metade.

Entre os 82 dos chamados “membros ativos” da bancada, 42 não se reelegeram. Mas a presença evangélica no Congresso deve se expandir, segundo projeção da coordenadora jurídica do bloco religioso, Lia Noleto. “O que houve foi uma mudança de nomes. A onda da renovação atingiu todos os segmentos.”

Somando senadores e deputados, são 82 parlamentares evangélicos na linha de frente, que inclusive costumam frequentar cultos realizados nas manhãs de quarta-feira num dos plenários da Câmara.

Já a base de apoio, hoje com 150 congressistas, a partir de 2019 deve subir a 180 dos 513 deputados, diz Noleto. A futura cara da bancada na Câmara ainda não foi definida.

Mas já dá para estimar que o segmento mais que dobrou no Senado: hoje são três, e no ano que vem serão oito, 10% da Casa. Recém-eleitos no Rio, Flávio Bolsonaro (PSL), da linha batista, e Arolde de Oliveira (PSD) eram rivais na teoria, mas fizeram dobradinha, pedindo voto um para o outro.

A vitória de Arolde comprovou a força do pastor Silas Malafaia como cabo eleitoral, que o apoiou e ainda emplacou a reeleição de seu protegido Sóstenes Cavalcante na Câmara e do irmão Samuel Malafaia na Assembleia do Rio.

Outro senador eleito foi Mecias de Jesus (PRB), que desbancou o todo-poderoso Romero Jucá (MDB) em Roraima.

O bloco evangélico unirá forças com os parceiros de praxe, como a frente católica e os dois outros terços da chamada “bancada BBB” —de Boi (ruralistas), Bíblia e Bala (segurança pública).

Se em 13,5 anos de governos petistas eles se viam como uma espécie de zagueiro das “causas morais”, tentando frear avanços progressistas indesejados, o núcleo evangélico espera partir para o ataque num eventual país presidido por Jair Bolsonaro (PSL).

“Com a onda conservadora, de uma forma geral estamos esperançosos de termos mais tranquilidades nos debates das pautas pró-vida e de família”, afirma Lia Noleto.

Um dos calouros na Câmara será Cezinha da Madureira (DEM-SP), atualmente deputado estadual. Carrega a igreja que representa no nome: ele é do Ministério Madureira da Assembleia de Deus, sob guarda do bispo Samuel Ferreira.

O capital político do bispo, que tinha como aliado Eduardo Cunha, pode ser medido pela lista de RSVP para a convenção nacional de sua denominação em 2017: lá estiveram Geraldo Alckmin e João Doria, então governador e prefeito, mais os chefes da Assembleia Legislativa e da Câmara Municipal de São Paulo.

A Igreja Universal perde um deputado de peso na próxima legislação, o bispo licenciado Antonio Bulhões, e ganha outro: Marcos Pereira, ex-ministro de Michel Temer e presidente do PRB, braço partidário da igreja de Edir Macedo –que endossa Bolsonaro.

Dos que ficaram de fora da Câmara, nomes com quilometragem na política, como Missionário José Olímpio (DEM-SP). Três vezes vereador e no segundo mandato em Brasília, ele é filiado à Igreja Mundial do Poder, de Deus, do apóstolo Valdemiro Santiago.

A baixa mais notória no Senado é Magno Malta (PR-ES). Bolsonaro chegou a dizer em junho, na Marcha para Jesus, que enviou uma “cartinha de amor” para convencer seu “vice dos sonhos” a ficar do seu lado. Magno, contudo, tinha dois motivos para declinar a investida do capitão reformado: seu partido não queria a aliança e ele mesmo preferia não arriscar uma reeleição que dava como certa. Perdeu.

Irmão Lázaro (PSC) —que, como Magno, divide a atividade parlamentar com o cancioneiro gospel— foi o terceiro deputado mais votado na Bahia em 2014. Tentou saltar da Câmara ao Senado, em vão.

Presidente da atual bancada evangélica, o pastor Hidekazu Takayama (PSC-PR) tem um punhado de hipóteses para a derrota que não só ele, como os outros “irmãos” sofreram.

Para ele, os “radicais de esquerda” foram bem-sucedidos contra parlamentares cristãos que apoiaram o impeachment de Dilma Rousseff (PT).

Colaram neles a pecha de escudeiros de um governante altamente impopular, Michel Temer (MDB). “Os evangélicos eram gratos a Temer por tirar a Dilma. Não imaginávamos tantas situações pendentes jurídicas [de Temer]. A oposição soube usar bem esse argumento, dizendo que éramos corruptos.”

Viram “vícios” no emedebista, mas por ele oraram. Acumularam vitórias em sua gestão. Celebram como uma das maiores a remoção das expressões “identidade de gênero” e “orientação sexual” da base nacional curricular, que define o que alunos aprendem da creche ao ensino médio.

No mesmo dia, o grupo entregou a Temer um ofício para convencê-lo do quão “absurda” era “a pedagogia que busca impor uma teoria com base sociológica que desconsidera a realidade biológica das crianças e adolescentes”.

Também criticaram uma resolução que combate a homofobia –há particular incômodo com escolas que deixam o aluno usar o banheiro de sua preferência, como a transexual que vai ao toalete feminino (“isso é um atentado violento ao pudor e a moral, no qual teremos homens e mulheres dividindo espaços íntimos e que deveriam ser protegidos daqueles que não compartilham da mesma anatomia”).

Reeleito em São Paulo, o pastor Marco Feliciano (Podemos) tem outra explicação para o malogro de colegas não reeleitos. “No afã de aumentar a bancada, evangélicos lançaram tantos, mas tantos nomes, que dividiram os votos. E voto não multiplica, ele migra”, afirma.

Para a assessora jurídica Lia Noleto, “não houve necessariamente um cansaço, mas uma fase de transição com os novos instrumentos de fazer política”. E muitos pastores que, na política, funcionavam à moda antiga não souberam lidar com o novo mundo. “Nomes tradicionais tiveram alguma dificuldade no trato com a mídias sociais. A forma de fazer política mudou.”

Takayama diz que não importa quem estiver na bancada, e sim o poder que os evangélicos terão de levar suas agendas adiante, e num ambiente muito mais amigável, caso Jair Bolsonaro vista a faixa presidencial em janeiro.

“Não adianta a esquerda achar que pode nos derrubar. A gente é que nem bolo, quanto mais bate, mais cresce.”

O presidenciável do PT, Fernando Haddad, é o adversário ideal, segundo Malafaia.

“Haddad foi o autor do ‘kit gay’, e aí nós deitamos e rolamos, jantamos o Haddad no mundo evangélico.” Refere-se ao pacote encomendado em 2011 pelo Ministério da Educação, então chefiado pelo petista, para orientar professores a combater a homofobia.

Bolsonaro teve seu terceiro e atual casamento celebrado por Malafaia, tem filhos evangélicos e chegou a ser batizado nas águas do rio Jordão (Israel), em 2016, por Pastor Everaldo, presidente do seu partido”à época, o PSC. Mas, apesar de forte aliado do segmento, ele se declara católico.

BANCADA EVANGÉLICA 2.0

Os calouros

Flávio Bolsonaro (PSL-RJ)
Filho de Jair Bolsonaro, o evangélico da linha batista saltará da Assembleia Legislativa fluminense para o Senado

Marcos Pereira (PRB-SP)
Ex-ministro de Temer e presidente do PRB, é bispo licenciado da Igreja Universal. Foi eleito para a Câmara.

Cezinha de Madureira (DEM-SP)
Será o representante na Câmara do Ministério Madureira, um dos braços mais poderosos da Assembleia de Deus

De saída

Magno Malta (PR-ES)
O senador foi cobiçado por Bolsonaro como vice, mas preferiu apostar na reeleição, não concretizada

Valdir Raupp (MDB-RO)
Atingido pela OperaçãoLava Jato, ficou em lugar na corrida pelo Senado

Missionário José Olímpio (DEM-SP)
Há dois mandatos na Câmara, e antes disso vereador por três vezes em São Paulo, não conseguiu votos o suficiente para permanecer na Casa

Hidekazu Takayama (PSC-PR)
Atual presidente da frente evangélica, o pastor foi derrotado no Paraná. Culpa a esquerda, que teria conseguido colar em líderes evangélicos a pecha de corruptos, por apoiarem a substituição de Dilma Rousseff por Michel Temer

Fonte e texto: Folha de São Paulo

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