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Brasileira faz cirurgia, muda cor dos olhos e quase fica cega

Patrícia perdeu 70% da visão após cirurgiaO Fantástico investigou médicos em vários países e até aqui, no Brasil, que prometem fazer uma cirurgia perigosa e proibida: mudar a cor dos olhos. A matéria foi ao ar neste domingo à noite (30/06).

“Eu perdi 70% da visão. Não posso dirigir, nem trabalhar. Não consigo ler. Eu não consigo usar o computador. Eu não tenho mais uma vida normal. Me tornei uma pessoa incapaz”, conta Patrícia Rodrigues.

Esse drama na vida da Patrícia começou quando ela foi trabalhar como assessora de um cirurgião plástico. Na época, ela usava lentes de contato azuis, e recebeu uma proposta. “Depois de um ano trabalhando com ele, ele me apresentou essa cirurgia de mudança da cor dos olhos”, lembra a paciente.

A cirurgia só era feita no Panamá, um pequeno país da América Central. O médico brasileiro acompanhou Patrícia. Ela deixou de ter olhos castanhos e ganhou olhos azuis.

“Ele queria que eu divulgasse a clínica, a imagem dele, através desse procedimento. Seria uma novidade estética”, diz. Ela conta que, em troca, ganharia apenas o benefício estético. “Eu não paguei por essa cirurgia. Foi financiada por ele. A cirurgia, a viagem”.

Imagem: Reprodução (Vídeo)

Através de um pequeno corte, a lente artificial colorida é inserida em cima da íris, como uma capa

Pouco depois da operação, o cirurgião plástico para quem Patrícia trabalhava morreu. E ela diz que passou a ser acompanhada por um oftalmologista da equipe. “Doutor William Teixeira. Ele me acompanhou durante todo esse período, 3 anos e 8 meses que eu estive com os implantes”, afirma.

E a paciente afirma: foi sob os cuidados pós-operatórios do doutor William que ela quase ficou cega. “Eu perdi 70% da visão. É muito difícil, porque eu fico até com medo de esquecer a fisionomia dos meus familiares, esquecer como é meu rosto, porque eu não me vejo mais no espelho”, lamenta.

Patrícia não é a única. A produção do programa localizou em diversos países pacientes que fizeram implante de íris artificial no Panamá, e tiveram complicações sérias. Na Inglaterra, Estados Unidos, Canadá e no Brasil, médicos contam que também atenderam vítimas dessa cirurgia.

O oftalmologista Vital Paulino Costa conta que já recebeu três casos iguais aos da Patrícia no consultório. Todos da mesma cirurgia feita no Panamá. “Todos com as mesmas complicações”, afirma.

O Fantástico viajou até o Panamá, onde começou essa história. Desde 2004 a Cidade do Panamá, capital do país, vem recebendo brasileiros e pessoas de toda parte do mundo que chegam com o sonho de trocar a cor dos olhos. Eles podem ficar azuis, verdes, a gosto do freguês. E isso é possível desde que se tenha disposição de pagar 8 mil dólares por uma cirurgia aparentemente simples, mas cheia de riscos. Inclusive de levar à cegueira.

O Fantástico foi até a clínica do médico que diz ser o criador desse implante: o doutor Delary Kahn, o mesmo que operou a Patrícia. Ele explicou a técnica: a parte mais externa e transparente do olho é a córnea. Atrás dela, a íris, onde a luz é filtrada. Depois estão o cristalino e o nervo ótico. Através de um pequeno corte, a lente artificial colorida é inserida em cima da íris, como uma capa. Um procedimento que dura cerca de 10 minutos.

“Até agora temos mais de mil cirurgias realizadas. Temos muitos pacientes da América Latina, e muitos dos Estados Unidos. Brasileiros poderiam ser 8%, mais ou menos”, aponta o médico.

Se este número estiver correto, mais de 80 brasileiros podem estar com essas lentes artificiais hoje. Alguns pacientes foram localizados no Brasil, mas não querem aparecer porque se sentem constrangidos.

A operação só é legalizada no Panamá. E não existe no mundo nenhum estudo científico que comprove a segurança para os pacientes. “Cinco por cento dos pacientes podem apresentar algum grau de complicação”, afirma o oftalmologista Delary Kahn.

Diante da quantidade de pessoas que alegam ter sofrido complicações com a técnica do doutor Kahn, um médico americano fez um estudo sobre os pacientes que tiveram que retirar os implantes.

“Córneas inchadas, pressão ocular alta, e por causa disso, glaucoma. Todos estavam com os olhos doentes”, aponta David Ritterband, oftalmologista. Ele também faz um alerta: “Se esses implantes continuassem ali, todos ficariam cegos”.

Transplante

Patrícia conseguiu fazer um transplante de córnea, mesmo sem saber se voltaria a enxergar. Entrou na fila do banco de olhos e a sua história começou a ter um final feliz.

“A cirurgia foi perfeita, tudo ótimo. Patrícia está muito bem. Em torno de 1 a 4 semanas, ela já deve estar com a visão recuperada”, afirma Nicolas Cesário Pereira, cirurgião oftalmologista.

Dezessete dias depois do transplante, ela já estava andando, subindo uma escada, firme, com segurança, e de salto.

“Assim como deu certo pra mim, eu espero que dê certo para as outras pessoas que estão passando pelo mesmo problema que eu e estão sem coragem. Meu conselho é que elas não fiquem quietas”, diz a paciente.

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Fonte: Fantástico

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