O que Deus fez por nós e o que Ele espera que façamos
O que Deus fez por nós e o que Ele espera que façamos Baseado na Segunda Epístola de Pedro Por…
O que Deus fez por nós e o que Ele espera que façamos
Baseado na Segunda Epístola de Pedro
Por Bispo José Ildo Swartele de Mello
Introdução:
a) Apresentação de Pedro:
- Pedro introduz a si mesmo, primeiro, como um convertido: “Simão Pedro”, ele usa o nome composto daquele que era seu nome original, como era chamado antes de seu encontro com Cristo juntamente com o seu novo nome que lhe foi dado por Jesus, apresentando-se como um testemunho vivo do Poder Transformador de Deus. Simão tornou-se Pedro!
- Depois, introduz a si mesmo como “Servo”. Sinal de que nunca perdeu a humildade e a consciência de sua condição primária de servo de Cristo, que é Rei e Senhor.
- Por fim, apresenta-se também como “Apóstolo”, reivindicando a autoridade proveniente do fato de ter sidotestemunha ocular e discípulo direto de Cristo para combater os hereges que estão deturpando a Verdade e desviando os crentes do reto caminho.
b) A importância da Verdade (o conteúdo e objeto da fé)
Pedro afirma que boa parte de seu ministério consiste em relembrar os cristãos daquilo que eles já sabem (1.12). Ele sente a urgência em repetir continuamente as mesmas verdades (2.13 e 15; 3.1,2 e 8). Às vezes, não nos sentimos inspirados a falar sobre temas que consideramos batidos, muitos chegam a sentir a tentação em sair a caça por novidades místicas e esotéricas que possam atrair multidões. Mas não devemos nos desviar da verdade. Os ensinos cristãos merecem e precisam ser repetidos. Pregadores fiéis e competentes aprendem a ensinar coisas antigas de modo novo e interessante.
Verdade baseada em fatos históricos e testemunhas oculares e não em lendas ou especulação filosófica (1.16)
Pedro quer que as pessoas creiam e ajam não simplesmente porque tais ensinos fazem parte de nossa confissão e herança religiosa, ou porque contém coisas boas e sábias, mas, sim, porque são verdadeiros!
Verdade baseada em revelação bíblica: “Porque nunca jamais qualquer profecia bíblica foi dada por vontade humana, entretanto, homens santos falaram da parte de Deus, movidos pelo Espírito Santo.”
Precisamos nos dedicar ao estudo da Bíblia e da teologia para melhor poder ensinar. Toda prática, experiência e ensino devem estar firmemente calcados na Palavra da Verdade! Para nós, como cristãos, não importa se funciona, se dá resultado, se promove o crescimento da igreja, pois, o que importa mesmo é se está de acordo com a Verdade revelada nas Sagradas Escrituras.
Pedro está preocupado com as heresias destruidoras daqueles falsos profetas e mestres que deturpam os ensinos de Paulo e as demais Escrituras(2 Pe 3.15-16), transformando a graça de Deus e a liberdade cristã em libertinagem (2 Pe 2.2, 10, 13-19).
1) O que Deus fez por nós?
Carta endereçada aqueles que “receberam a fé”
“Fé” que significa:
- o ato de crer propriamente dito
- e a substância e conteúdo do que é crido
“Pela Justiça de Nosso Deus e Salvador” (1.1).
Interessante notar que Pedro atribui a salvação não apenas à misericórdia, mas também à fidelidade e justiça de Deus, que é fiel e justo para perdoar os nossos pecados por causa da obra expiatória de Cristo, o Justo e Justificador, que é a propiciação pelos nossos pecados (1 Jo 1.9; 2.1-2)
Deus chama e capacita.
“Deus nos concedeu todas as condições necessárias para a vida e a piedade” (1.3).
“Assim como faz cair a chuva, propiciando por sua graça as condições necessárias para que a terra produza os seus frutos” (Hb 6.7).
Deus nos chama através de sua glória e virtude. A glória de Deus atrai e conquista. Exemplo:
- Moisés (Ex 33.19-19 e o cap. 34 mostra Moisés vendo a glória de Deus protegido na rocha);
- Pedro testemunhou a transfiguração,
- “Vimos sua glória cheio de graça e de verdade” (Jo 1.14).
Através de sua glória e virtude, Deus nos deu grandes e preciosas promessas.
Quais são estas promessas?
- Não são promessas mundanas, efêmeras e falsas, tais como: “trabalhe duro e você prosperará”; “economize e você terá uma aposentadoria tranquila”, pois, promessas deste tipo, frequentemente, não se cumprem devido a diversos fatores como desemprego, crises econômicas, traição, enfermidades, acidentes, morte precoce. Na melhor das hipóteses, tais conquistas são transitórias. (Não acumuleis tesouros na terra… Louco, hoje, pedirão a tua alma e o que tens preparado para quem será?… De que aproveita ao homem ganhar o mundo todo e perder a alma… Tudo é vaidade!)
- As promessas de Deus são preciosas e eternas: Vida Eterna, Ressurreição, Céu, Dom do Espírito, que estaria conosco até o fim, participar da natureza divina, tornar-se filho de Deus.
“Participar da natureza divina” (1.4)
O que não significa tornar-se deus, pois Deus é único, e nem significa ser absorto em Deus numa espécie de panteísmo, mas tem a ver transformação moral, “Deus nos concedeu todas as condições necessárias para uma vida de santidade e piedade “ (1.3), para vivermos como filhos de Deus, e para “escaparmos da corrupção deste mundo” (1.4). O Evangelho é poderoso não apenas para perdoar, mas também para transformar, pois Deus já nos deu tudo de que precisamos para um novo viver.
2) O que devemos fazer, agora?
“Por isso, façam todo o esforço”… (1.5)
O trabalho de Deus a nosso favor e em nós deve ser a base e o incentivo para o nosso próprio esforço para o crescimento espiritual. Deus nos deu graça e todas as condições para a vida e a piedade (1.3), “por isso” devemos nos esforçar para cumprir a nossa parte. Paulo ensinou mesmo a Igreja de Corinto “Caríssimos, já que temos tais promessas, vamos purificar-nos de toda mancha do corpo e do espírito. E levemos a cabo a nossa santificação no temor de Deus” (2 Co 7.1). Assim, compreendemos melhor o que Jesus quis dizer com a frase: “…o reino dos céus é tomado por esforço, e os que se esforçam se apoderam dele” (Mt 11:12) e também o que está registrado em Lucas 13:23-30 “E alguém lhe perguntou: Senhor, são poucos os que são salvos? Respondeu-lhes: Esforçai-vos por entrar pela porta estreita, pois eu vos digo que muitos procurarão entrar e não poderão”. Jesus advertiu seus discípulos dizendo: “Se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus (Mt 5.20). “Desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor” Fl 2.12, pois “…de Deus somos cooperadores” (I Cor 3:9). “Empenhem-se para serem encontrados por ele em paz, imaculados e inculpáveis” (2 Pe 3.14). “Não sabeis que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um só leva o prêmio? correi de tal maneira que o alcanceis” (1Co 9.24,25). “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor, atentando, diligentemente, por que ninguém seja faltoso, separando-se da graça de Deus” (Hb 12.14-15).
Devido ao fato de Deus já ter nos dado gratuitamente todo o necessário para uma vida piedosa, inclusive preciosas promessas e a participação na natureza divina, devemos agora nos esforçar para fazer nossa parte no aprimoramento das 8 virtudes cristãs aqui mencionadas:
8 Virtudes a serem nutridas e aperfeiçoadas em nós:
- fé,
- virtude moral,
- conhecimento (discernimento moral e espiritual),
- autocontrole (comida, bebida, sexo, comunicação, temperamento, uso do tempo (2 Tm 1.7),
- perseverança (na fé, na esperança e no amor em meio as provações),
- piedade (temor e reverência decorrentes da consciência da presença de Deus em toda a esfera da vida),
- afeto mútuo e fraterno e, por fim,
- o amor que é a essência de Deus.
Começamos pela fé e terminamos no amor! “Sem fé é impossível agradar a Deus” e o amor é o Grande Mandamento, a essência de Deus e o sinal do verdadeiro cristão “…Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor… e aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus, nele” (Jo 4.8,16).
Não é errado questionar nossa experiência de salvação:
Pois o próprio Paulo exorta: “Examinem-se para ver se vocês estão na fé; provem-se a si mesmos. Não percebem que Cristo Jesus está em vocês? A não ser que tenham sido reprovados” (2Co 13.5). E João escreveu seu livro para levar certeza para os salvos, afirmando que existem frutos como evidência para a salvação: “Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos aos irmãos. Quem não ama permanece na morte” (1Jo 3.14); A fé salvadora é aquela que opera por meio do amor (Gl 5.6), pois a “fé sem obras é morta” (Tg 2.26); crentes sem frutos não encontram base para segurança da sua salvação (Jo 15.2). Temos que entender que a natureza da salvação não se resume a justificação, mas também inclui regeneração, santificação e, por fim, glorificação.
Fomos chamados para ser e fazer discípulos e não apenas “crentes”
Pedro combate a heresia de que é possível aceitar a Jesus apenas como Salvador, mas não necessariamente como Senhor, apenas pela fé, sem que seja necessário o arrependimento, o erro de pensar ser possível ser apenas “crente” sem ser discípulo, ensinando também que não seria necessário tomar cuidados para conservar e desenvolver a salvação. Mas a fórmula correta para a salvação é fé + arrependimento. A razão porque um só destes elementos é citado em alguns textos deve-se ao fato do outro já estar implícito, como no caso da conversão do centurião em Atos 16. Salvação envolve tanto justificação quanto regeneração. Não se pode ter um sem o outro (Tt 3.5-7). Jesus nos enviou para fazer discípulos e não apenas “crentes” ou cristãos nominais, batizando e ensinando a obedecerem tudo o que Jesus ordenou (Mt 28.18-20).
Salvação e discipulado são idênticos. Responder ao chamado de Cristo é tornar-se Seu discípulo. O Novo Testamento enfatiza o Senhorio de Cristo e o discipulado. São 664 registros de Jesus como Senhor e 24 como Salvador; e 284 vezes aparece o termo discípulo e 3 vezes o termo cristão. Sendo artificial qualquer distinção entre discípulo e cristão (At 5.14; 6.1). Evangelismo que omite a mensagem de arrependimento e o preço do discipulado não merece ser chamado de Evangelho. Fé e obediência são inseparáveis. Paulo escreveu a Tito a respeito daqueles que professam conhecer a Deus, mas que por sua desobediência provam sua falta de fé (Tt 1.16). Para ser salvo a pessoa precisa confessar o senhorio de Cristo (Mt 7.21-23; Lc 6.46-49, Rm 10.9, 13, 1 Co 12.3). É necessário renunciar ao ego, como exortou Jesus “Se alguém quiser ser meu discípulo, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me. Pois quem quiser salvar a sua vida, a perderá, mas quem perder a sua vida por minha causa, a encontrará. Pois que adiantará ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? (Mt 16.24-26). Jesus não pode ser Salvador sem Ser Senhor. Ele é Senhor, e aqueles que o rejeitam como Senhor não podem usá-lo como Salvador. É necessário tê-lo como Senhor e não apenas Salvador, arrependimento e não apenas fé, ser discípulo e não apenas crente, segui-Lo e não apenas encontrá-Lo, obedecê-lo e não apenas amá-lo da boca pra fora, tornar-se uma bênção, e não apenas receber as bênçãos, dar e não apenas recceber, amar e não apenas ser amado, perdoar e não apenas ser perdoado, esforçar-se e não apenas esperar em Deus, multiplicar o talento e não apenas preservá-lo, buscar o Reino e não apenas aguardar, permanecer e não apenas iniciar o caminho, vencer e não apenas apenas contemplar a vitória de Cristo e dos heróis da fé, tudo isto com a capacitação do Espírito gracioso de Cristo.
Devemos ser frutíferos, senão…
As 8 virtudes mencionadas por Pedro não são um fim em si mesmas “porque estas coisas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais inativos, inúteis e nem infrutíferos” (v.8). “Pelos seus frutos os conhecereis” (Mt 7.20). “Pois aquele que não possuem estas virtudes é cego e míope e esqueceu da purificação de seus pecados” (v.9).
Precisamos tomar cuidado para confirmar o nosso chamado e eleição, precisamos cuidar para não tropeçar (v.10), pois é desta maneira que nos será amplamente suprida a entrada no reino eterno (v.11). “Aquele que perseverar até o fim será salvo” (Mc 13.13; Jo 8.31), “ao vencedor, que guardar até o fim as minhas obras…” (Ap 2.26). E Paulo disse: “. . . mas esmurro o meu corpo, e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser reprovado. . . ” (1 Co 9:27). No capítulo seguinte, ele diz que a incredulidade do povo de Israel no deserto, a idolatria e os pecados morais que os israelitas cometeram, acabaram atraindo o juízo de Deus, de modo que a maioria dos israelitas ficaram reprovados e prostrados no deserto (1 Co 10:1-5). Paulo adverte que essas coisas serviram de exemplo para nós que fazemos parte da Igreja (1 Co 10.6). Ele disse em 1 Co 10:14 – “Amados, fugi da idolatria”. Fica claro que Paulo tinha a preocupação de que a Igreja de Corinto agisse tal como os israelitas e, conseqüentemente fosse reprovada. Veja 1 Co 10:11 – “Essas coisas lhes sobrevieram como exemplos, e foram escritas para advertência nossa. . .” e “Aquele, pois, que pensa estar em pé, cuide para que não caia” (1 Co 10:12). “Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora, à semelhança do ramo, e secará: e o apanham, lançam no fogo e o queimam” (Jo 15.6).
Por esta razão é que Pedro também adverte nesta mesma carta: “Porquanto se, depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador Jesus Cristo, foram outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro. Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça, do que, conhecendo-o, desviaram-se do santo mandamento que lhes fora dado. Deste modo sobreveio-lhes o que por um verdadeiro provérbio se diz: O cão voltou ao seu próprio vômito, e a porca lavada ao lamaçal” (2 Pe 2:20-22). O autor de Hebreus também adverte para o risco de se perder a salvação e da necessidade da perseverança para se alcançar a promessa (Hb 6.4-8, 12; 10.26-38). O autor de Hebreus apresenta uma boa ilustração sobre o relacionamento da graça de Deus e as boas ações humanas, demonstrando que aqueles que recebem a graça devem produzir os respectivos e esperados frutos: “Porque a terra que absorve a chuva que frequentemente cai sobre ela e produz erva útil para aqueles por quem é também cultivada recebe bênção da parte de Deus, mas, se produz espinhos e abrolhos, é rejeitada e perto está da maldição; e o seu fim é ser queimada” (Hb 6.7-8). Esta é a mesma lição que Jesus dá nas parábolas do Talentos (Mt 25.14-30), dos Lavradores Maus (M 21.17-44), Servo Infiel (Mt 24.45-51; Lc 12.35-48), Dez Virgens (Mt 25.1-13), Julgamento das Nações (Mt 25.31-46), Parábola da Figueira infrutífera (Lc 13.6-9). O ensino é claro, quem não multiplica o talento, os lavradores maus, os servos infiéis, as virgens imprudentes, os mau feitores, a figueira infrutífera, o que não está dignamente trajado (Mt 22), o que é morno em sua conduta e devoção cristã (Ap 2.15-16), todos estão sujeitos à condenação no juízo final. O ramo, mesmo estando ligado a Videira Verdadeira, se não der fruto, está pronto para ser cortado e lançado fora (Jo 15.2), assim também o sal que se tornar insípido e imprestável é jogado fora (Mt 5.13), e aquele que é morno em sua conduta cristã está prestes a ser vomitado por Deus (Ap 2.15-16).
Onde foi parar o Temor do Senhor?
A Bíblia dá muita ênfase ao temor do Senhor tanto no Antigo como também no Novo Testamento. Foi a primeira coisa que Deus exigiu de Israel quando o chamou para ser seu povo e andar condignamente (Dt 10.12,13). Devemos temê-lo pois Deus é Santo, reto, justo, imenso, todo poderoso, majestoso e esplendidamente belo e incomparável: “Quem entre os deuses é semelhante a ti, Senhor? Quem é semelhante a ti? Majestoso em santidade, terrível em feitos gloriosos, autor de maravilhas?!” (Ex 15.11). Pedro está lidando com esta falta de temor a Deus: “Em primeiro lugar, vocês devem saber que nos últimos dias aparecerão pessoas que zombaram de tudo e se comportarão ao sabor de seus próprios desejos” (2 Pe 3.3). Quando não há o devido temor a Deus, as pessoas sentem-se livres para pecar. Deus é santo, mas as pessoas não estão dando a devida atenção a questão do pecado, que é algo tão contrário a natureza divina. Não há mais temor do Juízo Final. Mas Pedro adverte: “O dia do Senhor chegará como um ladrão, e então os céus se dissolveram com estrondo, os elementos se derreteram, devorados pelas chamas, e a terra desaparecerá com tudo o que nela se faz. Em vista dessa desintegração universal, qual não deve ser a santidade de vida e piedade de vocês, enquanto esperam e apressam a vinda do Dia de Deus? Nesse dia, ardendo em chamas, os céus se dissolverão, e os elementos se fundirão consumidos pelo fogo.” (2Pe 3.10-11). É de arrepiar também a descrição do grande dia da Ira de Deus, quando os impenitentes clamaram aos montes e as pedras, dizendo: “desmoronem por cima de nós, e nos escondam da Face daquele que está no trono, e da ira do Cordeiro. Pois chegou o grande Dia da sua ira. E quem poderá ficar de pé?” (Ap 6.12-17).
Hoje em dia, há uma falta de temor tão grande, que tem até muito crente falando como se fosse divertido encontrar o olhar do Deus Todo Poderoso. Quanta irreverência! É melhor pensarem com mais seriedade. Deus não é brincadeira. Onde foi parar a percepção da sublime majestade de Deus? Como bem observou Pratney em seu livro A Natureza e o Caráter de Deus (Editora Vida, 2004, p.290): “Estão tratando Deus como se ele fosse uma amigo informal e mortal, aproximando-se dele de forma superficial, com a irreverência de um tapinha nas costas. As pessoas pensam pouco ou nada ao blasfemar seu nome repetidamente em uma conversa comum, os comediantes zombam dele publicamente numa toada profana, e a mídia lida com questões de vida ou morte como se o julgamento e a eternidade fossem mitos populares e simples entretenimento ameno. Não há senso apropriado algum de deferência e honra, nenhuma sensibilidade à dignidade e à glória de Deus.” No entanto, o profeta Isaías diante de uma visão de Deus, gritou: “Ai de mim!” (Is 6.1-5); o Apóstolo João, apavorado, caiu como se estivesse morto ao contemplar o fulgor glorioso da face de Cristo (Ap 1.16,17); e os que foram para prender Jesus, recuaram e caíram por terra quando ele disse: “Eu sou” (Jo 18.6); os anciãos se prostraram cinco vezes diante daquele que está assentado no trono (Ap 4.10), a voz do Senhor é poderosa e majestosa como trovão e faz tremer o deserto (Sl 29.3-8) e é também sublime a ponto de fazer arder os corações dos discípulos no caminho de Emaús! (Lc 24.32).
Pedro está procurando em sua carta restaurar o temor do Senhor, sabendo que este temor afasta os homens do mal. Ele chama atenção para o juízo de Deus que é certo sobre os perversos (2 Pe 2.3-22 e ver também 1 Pe 4.17). Paulo, semelhantemente adverte: “Não se deixem enganar: de Deus não se zomba. Pois o que o homem semear, isso também colherá. Quem semeia para a sua carne, da carne colherá destruição; mas quem semeia para o Espírito, do Espírito colherá a vida eterna. E não nos cansemos de fazer o bem, pois no tempo próprio colheremos, se não desanimarmos” (Gl 6.7-9). O temor do Senhor ainda é o princípio da Sabedoria e o conhecimento do Santo ainda é entendimento! (Pv 9.10).
Conclusão:
Tendo Deus nos concedido tudo o que necessitamos para a vida cristã, portanto o cristão precisa fazer a sua parte, começando pela fé que é a porta de entrada para o desenvolvimento das virtudes morais que, nutridas em nós, confirmam nosso chamado e nos garantem a entrada nos céus. Podemos dizer que a salvação é dádiva de Deus, recebida por fé e mantida e desenvolvida com cuidado, dedicação, empenho e perseverança pessoal possibilitados pela capacitação do Espírito Santo. Como disse Andrew Murray “Em primeiro lugar, preciso aceitar, confiar e regozijar-me na obediência de Cristo para cobrir, engolir e aniquilar terminantemente toda minha desobediência. Essa precisa ser a base inabalável, invariável, jamais esquecida, da minha aceitação por Deus. E, depois, a obediência dele torna-se o poder de vida da nova natureza em mim – assim como a desobediência de Adão era o poder que me governava até então. A minha sujeição à obediência é a única maneira que posso manter a minha relação com Deus e com a justiça. A obediência de Cristo à justiça é o único começo de vida para mim; minha obediência à justiça é sua única continuação. Tão certamente como a desobediência e a morte foram a lei para Adão e sua semente, a obediência e a vida o são para Cristo e sua descendência.”
“Portanto, amados, sabendo disso, guardem-se para que não sejam levados pelo erro dos que não têm princípios morais, nem percam a sua firmeza e caiam. Cresçam, porém, na graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A ele seja a glória, agora e para sempre! Amém.” (2 Pe 3.17 e 18)
Bibliografia:
Carson, D. A. Becoming conversant with the emergin church.
Pratney, W. A. A Natureza e o Caráter de Deus: A magnífica doutrina da salvação ao alcance de todos. Tradução Marson Gudes. São Paulo, Editora Vida, 2004.
As opiniões expressas nos textos publicados são de responsabilidade dos autores.