Padre questiona destino do dinheiro doado a programas religiosos
Djacy Brasileiro critica líderes católicos e evangélicos por ignorarem a seca do Nordeste.
O padre Djacy Brasileiro trabalha numa paróquia no sertão da Paraíba. Ele vê diariamente os sofrimentos das pessoas que morrem por causa da seca no nordeste brasileiro. Também costuma escrever textos e postar fotos no site Paraíba Verdade, onde deixa testemunhos e faz cobranças aos políticos.
Um desses textos tem ganhado notoriedade justamente por fazer outro tipo de cobrança. Ele prefere chamar de “desabafo” e “crítica construtiva”. Padre Djair questiona a inércia das igrejas brasileiras em relação aos males da seca.
Ele escreveu: “Por que a TV Canção Nova, que defende tanto a vida humana e animal, não vem ao sertão paraibano para mostrar para o Brasil e o mundo a fome e a sede que matam homens e animais?
Por que a Rede Vida, que defende tanto a vida humana, não vem ao sertão para ver de perto o drama da seca, e assim, mostrar para o Brasil e o mundo essa realidade de morte?
Por que os padres e pastores da televisão, não usam do seu poder midiático para gritar, clamar pelas vítimas da seca?
Onde estão vocês, padres e pastores da televisão? Vocês não veem que seus irmãos estão morrendo de fome e sede? Cadê o AMOR que tanto vocês pregam? É muito bom, cômodo, falar bonito sobre o AMOR dentro de estúdios ou auditórios refrigerados”.
Mesmo sem citar nomes de padres ou pastores, fica claro que ele se refere aos que têm usado a televisão para falar aos fieis e costumeiramente fazem campanhas que envolvem doações.
Implicitamente, ele se diz inconformado pelo destino dado a tanto dinheiro que é recolhido pelos religiosos em seus programas enquanto os padres e pastores não prestam contas onde ele é investido.
Em outro texto afirma: “Jesus, na sua grandíssima sensibilidade humana e divina, não suportou essa situação humilhante contra os filhos de Deus. Tomando as dores dessa população, não se acovardou, não se omitiu, gritou em alto e bom som: “tenho pena deste povo, pois é como ovelha sem pastor (Pastor, neste caso, eram as autoridades políticas e religiosas omissas e covardes, que não estavam nem aí para as necessidades da população. É como aqui no Brasil).”
Djair também acredita que há algo errado com outros programas de TV, pois “apresentadores de telejornais não falam com voz embargada sobre as vítimas da seca, que sofrem com a sede e a fome? Nenhuma sensação de dor, de compaixão, de sensibilidade humano-cristã. Por quê?”
Fazendo uma defesa apaixonada do que ele chama de “Meu sofrido e desolado sertão”, o sacerdote parece decidido a continuar esperando pela ajuda dos líderes religiosos que, assim como o poder público, está tomado pela “insensibilidade da sociedade e das grandes mídias”.