O Céu Está Aberto
Ao orar, devemos pedir que o Senhor abra as janelas do céu para nossos pedidos? Será que precisamos orar até sentir que alcançamos o Senhor? Na verdade, essas são perguntas que, como cristãos, nem deveríamos fazer.
Imagine a cena: você foi convidado por um anfitrião generoso e abastado a participar de uma festa em sua propriedade. No convite está escrito expressamente que tudo estará preparado para a celebração e que os portões estarão franqueados a partir das 14 horas. Você chega ao lugar da festa, está dentro do horário, mas tem vergonha de entrar. Ao invés de tomar parte da festa, manda chamar o dono da casa e pede que ele abra a porta para você e o conduza para dentro. Como ele se sentiria? Valorizaria essa sua atitude? Será que ele não pensaria que você não levou a sério o que ele escrevera no convite? Não ficaria magoado?
Com certa freqüência constato essa mesma postura em irmãos em Cristo e às vezes em mim mesmo. Em nossas orações tendemos a pedir ao Senhor que Ele abra as janelas do céu ou que franqueie nossa entrada à Sua presença, que Ele escancare as portas celestiais para nossos pedidos, para Suas bênçãos sobre nós, para o Seu agir em nosso favor e em favor de outros. Mas eu me pergunto:
Precisamos pedir que o Senhor abra os céus para nós?
Há cristãos que acham que precisam orar por tanto tempo até sentirem que o Senhor está ouvindo e só ficam satisfeitos quando têm a sensação de que chegaram à presença de Deus. Uma oração assim pode ser sincera, pode ser reverente, mas está errada, uma vez que não está levando a sério a Palavra de Deus.
O que a Bíblia diz sobre o céu aberto?
Desde a ressurreição e ascenção de nosso Senhor Jesus Cristo, o céu está permanentemente aberto. No momento em que oramos a Jesus, no instante em que invocamos Seu Nome, já estamos em Sua presença. Ao pronunciar as primeiras palavras, Ele já está a nos ouvir e nos encontramos imediatamente na presença de Deus. Não importa se nossas emoções nos fazem sentir enlevados ou se não sentimos nada. Deus está nos ouvindo, o céu está aberto para nós – sempre!
O que Jesus consumou através de Sua morte e ressurreição é algo único e singular, que não existia antes em lugar algum e que deveríamos aproveitar muito mais pela fé.
Antes da vinda de Jesus ao mundo
Antes que Jesus viesse ao mundo e antes de Sua ascenção, o céu se abria apenas em certas ocasiões (revelações) e depois se fechava novamente. A culpa do céu cerrado foi a queda em pecado, e desde então, com poucas exceções, se manteve assim até Jesus realizar a obra de salvação por todos nós. O pecado se interpunha entre os homens e Deus e impedia seu acesso a Ele. Apenas aqui e ali Deus abria o céu para transmitir alguma mensagem específica.
No Antigo Testamento
Vejamos um exemplo bíblico do que estou dizendo: “Aconteceu no trigésimo ano, no quinto dia do quarto mês, que, estando eu no meio dos exilados, junto ao rio Quebar, se abriram os céus, e eu tive visões de Deus” (Ez 1.1). Obviamente os céus se abriram porque estavam fechados. Nessa abertura, o profeta teve visões de Deus. Uma se destaca de forma especial. Ezequiel viu o Messias, que é Deus (veja Fp 2.6ss.): “Por cima do firmamento que estava sobre a sua cabeça, havia algo semelhante a um trono, como uma safira; sobre esta espécie de trono, estava sentada uma figura semelhante a um homem. Vi-a como metal brilhante, como fogo ao redor dela, desde os seus lombos e daí para cima; e desde os seus lombos e daí para baixo, vi-a como fogo e um resplendor ao redor dela. Como o aspecto do arco que aparece na nuvem em dia de chuva, assim era o resplendor em redor. Esta era a aparência da glória do Senhor; vendo isso, caí com o rosto em terra e ouvi a voz de quem falava” (Ez 1.26-28).
Quando comparamos todo esse relato com as descrições encontradas no Apocalipse, vemos uma forte harmonia e uma semelhança impressionante (Ap 1.12-17; Ap 4.2,8). Deus apareceu a Ezequiel em forma humana, o que certamente aponta para o Messias ainda antes de Sua vinda ao mundo. Mas como naquela ocasião Ele ainda não tinha chegado a esta terra, o céu necessariamente voltou a se fechar quando a visão cessou, vindo a se abrir de forma definitiva apenas quando o Messias entrou em cena.
O Messias abriu o céu
Com a vinda do Messias apareceu no mundo Aquele que Ezequiel vira séculos antes no céu que se abrira. Quando o Senhor Jesus começou Seu ministério e foi batizado no rio Jordão, aconteceu o seguinte: “Batizado Jesus, saiu logo da água, e eis que se lhe abriram os céus, e viu o Espírito de Deus descendo como pomba, vindo sobre ele. E eis uma voz dos céus, que dizia: Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.16-17). Após a queda em pecado, o céu nunca tinha se escancarado dessa forma para qualquer ser humano. Com Ezequiel a abertura do céu aconteceu para que ele recebesse revelações. Mas com o Filho de Deus isso ocorreu para confirmá-lO em Seu ministério.
Na Sua primeira vinda, Jesus já anunciava o tempo em que o céu estaria aberto para sempre: “Em verdade, em verdade vos digo que vereis o céu aberto e os anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem” (Jo 1.51). Jesus é a es cada para o céu; por Ele chegamos ao céu e por Ele o céu vem até nós.
É curioso observar uma coisa que certamente tem seu significado: tanto a passagem de Ezequiel como a de João falam primeiro em descer e depois em subir. Por Jesus ter subido dos mortos primeiro, agora as bênçãos celestiais descem até nós.
Com a ascenção
Na Sua ascenção, Jesus adentrou os céus e mantém a porta aberta para sempre (ver Hb 4.14). O acesso ao Pai está livre. Aquilo que fora destruído pelo primeiro Adão foi restaurado por Jesus. A partir da subida de Jesus até o Pai não vemos mais a Bíblia dizendo que “os céus se abriram”, como foi dito a Ezequiel ou por ocasião do batismo de Jesus no Jordão. A partir desse momento vemos o céu aberto sempre, constante e continuamente, já que não voltou a se fechar depois que Jesus entrou por ele.
Uma grandiosa indicação de que agora o céu está permanentemente aberto e que temos acesso direto ao Pai é o dom do Espírito Santo, enviado a nós a partir do céu. Ele é o vínculo perene entre nós e o céu aberto. “…pelo Espírito Santo enviado do céu, vos pregaram o Evangelho, coisas essas que os anjos anelam prescrutar” (1 Pe 1.12).
Por essa razão Estêvão, cheio do Espírito Santo, podia dizer: “Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, em pé à destra de Deus” (At 7.56). Agora não lemos mais que “o céu se abriu” e sim “vejo os céus abertos”, porque não voltou a ser fechado depois que Jesus o abriu. Essa mesma realidade pode ser vista em outras situações semelhantes relatadas no Novo Testamento, como no caso de Pedro, de quem está escrito: “então, vi o céu aberto e descendo um objeto como se fosse um grande lençol, o qual era baixado à terra pelas quatro pontas” (At 10.11). João testemunha no Apocalipse: “Depois destas coisas, olhei, e eis não somente uma porta aberta no céu, como também a primeira voz que ouvi, como de trombeta ao falar comigo, dizendo: Sobe para aqui, e te mostrarei o que deve acontecer depois destas coisas” (Ap 4.1; veja Ap 19.11).
Da próxima vez que você for orar ou exercer algum ministério para o Senhor, por favor, lembre-se de que o céu não precisa ser aberto antes, mas que ele está sempre aberto sobre você. Assim como a pedra do sepulcro foi removida e o túmulo não conseguiu reter Jesus, da mesma forma a porta do céu está aberta para cada um de nós: “Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” (Hb 4.16). (Norbert Lieth — Chamada.com.br)