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Aposentada viaja o Brasil há 20 anos pregando o Evangelho nos aeroportos

A aposentada Isaura Lima Lopes, 79, peregrina por aeroportos brasileiros para pregar o Evangelho. Passa 20 dias por mês morando nos terminais. Dorme nas cadeiras e se banha nos lavatórios.

Ela diz fazer isso há 20 anos. Há 40, é surda, mas fala bem. Em Londrina (PR), onde fica até 25 de janeiro, já é figura conhecida no aeroporto. Em Porto Alegre, recebeu em outubro um diploma de reconhecimento público do Corpo de Bombeiros.

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Depoimento:

Minha primeira viagem foi de Recife a Campina Grande (PB), de ônibus, em 1953. Nunca mais parei de viajar.

Cheguei a ser noiva, estava até com o enxoval pronto. Então orei e descobri que minha missão era andar pelo país e evangelizar. Acabei ficando solteirona.
Sou cristã, mas não pertenço a nenhuma igreja.

Nasci em Goiana, na zona da mata do Estado de Pernambuco, filha de sitiante. Só consegui completar o primeiro grau nos estudos.

Aos 38 anos perdi a audição. Usei aparelho auditivo por seis anos, até que ele sumiu. Nunca mais usei.

Não sinto falta de escutar. Sempre carrego papel e lápis para que as pessoas que conversam comigo possam escrever o que desejam dizer [a Folha fez a entrevista com ela dessa forma].

Para me manter, vendia livros religiosos. Consegui me aposentar com um salário mínimo em 1984, por invalidez.

Há 20 anos, recebi uma mensagem de Deus, dizendo que minha missão deveria alcançar a classe mais rica do país, que anda de avião, e também os funcionários dos aeroportos. Por isso minha vida é assim.

Já estive em todas as capitais do Brasil. Em novembro de 2011, recebi outra mensagem de Deus, pedindo a minha permanência durante 20 dias em cada cidade. Então, do dia 5 ao 25 de cada mês, fico em algum aeroporto.

Durmo nas cadeiras. Tomo banho nas torneiras dos banheiros reservados aos deficientes físicos, pois neles posso trancar a porta.

Costumo fazer isso de madrugada, para não atrapalhar os outros usuários.

É desconfortável, mas faço tudo por amor a Jesus. Não posso sair para dormir em hotéis ou albergues. Pode acontecer de algum passageiro precisar falar comigo durante a noite.

CAPITAL

Sempre no dia 25 de cada mês, retorno para a quitinete que mantenho alugada em Valparaíso de Goiás [GO]. Pago R$ 200 por mês.

Eu devo sempre partir do aeroporto de Brasília para o meu destino seguinte.

Deus tem apreço pela nossa capital federal.

Compro as passagens com antecedência, sempre ida e volta. Assim economizo. Já cheguei a fazer empréstimos para comprá-las. As doações que recebo nos aeroportos me ajudam nas contas, mas não peço nada a ninguém.

Já tenho os meus próximos destinos: São Luís [MA], Porto Velho [RO] e Aracaju [SE].

Sei que tenho sobrinhos em São Paulo e acho que uma das minhas três irmãs está viva. Porém, há muitos anos não os vejo.

Minha vida passou a ser os aeroportos. Em todos, sou bem recebida. As pessoas me procuram, querem conversar, pedem orações. Só falo para quem quer me ouvir.

Tudo isso é muito para uma pessoa pobre. Sou a velhinha mais feliz do mundo.

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