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O que é o novo nascimento?

por Missionário Rosivaldo

Muitas pessoas criam terríveis confusões em torno do tema do Novo Nascimento. Para alguns, ter Nascido de Novo é ter uma religião; para outras quem nasceu num lar cristão, nasceu de novo; há quem pense que nascer de novo é ser um ativista religioso; para outros, nascer de novo é ser batizado nas águas e para alguns é ser batizado pelo Espírito Santo nos padrões pentecostais.

Todas as alternativas acima citadas estariam corretas se elas coexistissem lado a lado com a essência do Novo Nascimento: a vida na perspectiva do Reino de Deus. Ou seja, uma vida na terra com os valores e princípios do céu.

Neste capitulo vamos responder o que não é o Novo Nascimento e o que ele realmente é. Comecemos pelo que ele não é.

NASCER DE NOVO NÃO É:

1. Não é nascer e crescer numa família cristã e por isso adquirir hábitos e posições como os demais cristãos. Todo ser humano, mesmo os filhos de pastores ou lideres da igreja precisa passar pela experiência individual e intransferível do novo nascimento. O evangelho de João no capitulo 1.12,13 diz: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.” perceba que o apóstolo João está dizendo que o nascimento biológico de um homem jamais poderá determinar seu nascimento espiritual.

Perceba também que a condição sine qua non para nascer de novo é o recebimento da pessoa de Cristo. A palavra receber empregada pelo apóstolo é lambano, expressão grega que significa “receber uma pessoa e tornar-se acessível a ela” induzindo a compreensão de comunhão, amizade, acordo, boa relação, compromisso. Ninguém nasce de novo até que tenha conhecido a Jesus e dado a Ele todos os espaços necessários para sua atuação santificadora.

2. Não é pertencer a uma religião ainda que esta seja genuinamente correta. Sem dúvida João deu ênfase especial ao tema do novo nascimento. Tanto seu evangelho como suas epístolas oferecem-nos excelentes bases para uma concreta compreensão e assimilação da questão. Quando registrou o encontro noturno entre Nicodemos e Jesus, João teve a preocupação de enfatizar alguns aspectos pessoais da vida de Nicodemos que nos servem de base para entendermos que não significa nascer de novo.

O texto diz: “Havia, entre os fariseus, um homem chamado Nicodemos, um dos principais dos judeus. Este, de noite, foi ter com Jesus e lhe disse: Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele. A isto, respondeu Jesus: Em verdade, em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus.” João diz-nos que Nicodemos era judeu.

O judaísmo era a religião do povo eleito de Deus. Com certeza não havia em toda a terra uma religião tão correta aos olhos divinos como o judaísmo. Suas leis eram divinas, suas cerimônias foram estabelecidas por Deus; seus costumes culturais se misturavam com suas práticas religiosas, deixando a doutrina muito próxima da prática; sua maior expressão de orgulho e amor eram a lei e o templo. Ambos construídos sob a direção divina. Cada palmo do templo fora milimetricamente construído seguindo o padrão que Deus tinha estabelecido. Com certeza Nicodemos estava na religião certa, na melhor e na mais perfeita, mas a despeito de todas essas coisas, a religião correta nunca será um substituto do novo nascimento.

3. Não é ter um conhecimento profundo e acurado das sagradas Escrituras, mesmo sendo isso de grande valor. Sabe-se que todo judeu era versado na lei. Aos treze anos todo garoto judeu era levado à sinagoga para sua iniciação aos preceitos da religião. Lá ele lia a torá ou Pentateuco pela primeira vez e passava a ser responsável pela sua conduta dentro das leis divinas, pois agora ele era considerado adulto. Ele devia ler as escrituras diariamente para assimilar seus ensinos a fim de conduzir-se por eles.

Por isso todo judeu é um profundo conhecedor das Escrituras. Acrescentando algo mais a isso, João diz que Nicodemos não era apenas um judeu, mas um dos principais dos judeus, outra tradução vai dizer que era príncipe dos judeus. É correto pensar que ele ensinava na Sinagoga, tinha discípulos, era um homem moralmente respeitado, em suma, era um religioso fabuloso, conhecia toda a Lei.

Mas Jesus lhe disse: “Não te admires de eu te dizer: importa-vos nascer de novo.” (v.7). É como se Jesus estivesse dizendo: eu lhe conheço e não fique espantado, mas eu tenho que te dizer uma coisa fundamental: apesar de você ter tanto conhecimento, ser tão respeitado, ter discípulos que valorizam seus ensinos, ter uma posição moralmente sadia aos olhos da comunidade, se você quiser ser salvo, tem que nascer de novo.

4. Não é saber quem é Jesus. Nicodemos disse: “(…) sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus; (…) como judeu Nicodemos podia não gostar do fato de Jesus ser mestre, podia não aceitar sua deidade, podia não querer que Jesus tivesse vindo, mas no seu coração ele sabia quem era Jesus, o Mestre vindo de Deus. Mas apesar de ele saber quem era Jesus, foi-lhe dito que precisava nascer de novo. O conhecimento teórico ou teológico de quem é Jesus jamais será um suplente para o novo nascimento.

5. Não é crer nos sinais miraculosos de Jesus. Nicodemos afirmou categoricamente: “(…) Rabi, sabemos que és Mestre vindo da parte de Deus; porque ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele. (…) o professor dos judeus cria nos sinais de Jesus. Ele não lhe atribuiu charlatanismo. Nicodemos acreditava que aqueles sinais eram divinos. Eram sinais que evidenciavam a missão de Cristo e lhe selavam a mensagem e o ministério. Os judeus sempre pediam sinais e Jesus os tinha. Mas apesar de crer nos sinais messiânicos e divinos que o Senhor realizava, Nicodemos precisava de uma verdadeira experiência de novo nascimento, uma vez que fé nos sinais não equivale à fé no Salvador!

6. Não é conseguir discernir os sinais de Deus dos sinais humanos e malignos. Nicodemos disse precisamente assim: “(…) ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele.” Não posso afirmar que Nicodemos tinha o dom de discernir espíritos descrito em I Coríntios 12, mas também não posso negar que ele tinha discernimento espiritual e que conseguiu distinguir os sinais de Jesus dos sinais operados por outros mestres que surgiram antes de Jesus começar a ensinar . Esse tipo de percepção é peculiar de pessoas que tem fortes convicções de sua fé.

Nicodemos não era o tipo de pessoa que ia atrás de qualquer pregador. Para dar base a esse argumento, repare que ele foi ter com Jesus à noite. Ainda tinha questões que ele precisava especular sobre Jesus e sua doutrina. Percebe-se em Nicodemos um homem de singular cautela e de prudente procedimento.

Até aqui enumeramos seis grandes características que não são substitutas para o novo nascimento, embora sejam extremamente necessárias. Entendamos que, todo súdito do Reino precisa, necessariamente, ter hábitos cristãos que comprovem sua crença em Deus; devem pertencer a uma igreja ortodoxa para cultivar em sua mente a sã doutrina; carecem de um conhecimento acurado e profundo das Sagradas Escrituras; necessitam saber quem é Jesus para não serem enredados pelos novos “jesuses” que surgem como personagens de novos “evangelhos” como o da prosperidade, etc.; devem crer nos sinais de Jesus para não serem céticos e concordarem que a ação prodigiosa de Deus é coisa do passado; enfim, os servos de Deus precisam de discernimento para não confundir a obra divina com as satânicas e humanas.

Perceba, por favor, que o modo como Nicodemos cultivava sua fé era brilhante, correto, profundo e criterioso, coisas que faltam com muita frequência na maioria dos crentes. Nicodemos era, sem dúvida, um homem sensacional como religioso. Talvez poucos de nós consigam se tornar tão profundos e brilhantes como Nicodemos.

Mas nenhum brilhantismo equivale ao Novo Nascimento. Essa necessidade urgente e universal não se supre com nada. Do mais atrevido e depravado pecador ao mais equilibrado e ilibado religioso, todos precisam nascer de novo. Os criminosos precisam nascer de novo, mas os pregadores necessitam também e com a mesma urgência!

Dada esta explicação nos deteremos agora no que vem a ser o Novo Nascimento. A princípio digamos que o Novo Nascimento é associado principalmente ao nascimento fisiológico ou biológico, isso para facilitar a nossa compreensão.
Vejamos algumas considerações cabíveis.

O QUE É O NOVO NASCIMENTO:

1. O Novo Nascimento é um ato da graça divina que acudindo ao arrependimento do homem gera uma nova criatura.

No nascimento biológico, ninguém nasce até ser gerado, da mesma forma no contexto espiritual nenhum individuo nasce de novo até que seja gerado por Deus. Pedro assim se refere a isso: ”Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, para uma herança incorruptível, sem mácula, imarcescível, reservada nos céus para vós outros que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé, para a salvação preparada para revelar-se no último tempo .”

O verbo regenerar significa necessariamente gerar novamente e segundo a declaração de Pedro essa ação é praticada por misericórdia de Deus. Isso está em perfeita harmonia com o ensino enfatizado no primeiro capitulo do evangelho de João: “Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas [da vontade] de Deus .”

Mas como se dá esse nascimento? Assim como não pode haver nascimento biológico sem que tenha havido antes geração, assim também ninguém nasce de novo até que as sementes da palavra de Deus tenham gerado fé, arrependimento e confissão sincera. Paulo nos dá uma valiosa informação que podemos usar para esse assunto em I Coríntios 6.17: “Mas aquele que se une ao Senhor é um espírito com ele.”

O verbo unir no grego é “kollao” (κολλαω) e significa exatamente “colar, grudar, cimentar, firmar, juntar ou firmar bem, juntar-se a, aderir a” perceba que todos os verbos sinônimos de “unir” invocam um sentido de união firme e permanente com Deus.
Ora, tal como o nascimento biológico é resultado da união entre um homem e uma mulher numa relação íntima, o Novo Nascimento é resultado de uma união íntima, humilde e cheia de fé entre o homem e Deus. Dessa união nasce um novo homem com traços do divino caráter de Deus: “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas .”

O Novo Nascimento é a condição sene qua non para ser filho de Deus. Assim como o óvulo humano é fecundado para gerar vida, também o coração humano precisa ser fecundado com o sincero arrependimento que ocasiona a confissão de pecados e como consequência disso o Espírito Santo gera vida nova. Nisto percebe-se uma ação conjunta, nem só o óvulo masculino nem só o feminino, mas a junção de ambos é que favorece a vida. Semelhantemente, toda tentativa humana para nascer de novo sem a ação do Espírito é pura utopia humanista.

O segundo argumento que quero destacar tem a ver com os impedimentos do Novo Nascimento. Enfatizemos dois fatores relevantes para impedir o nascimento biológico: primeiro o aborto e segundo a má formação do feto. Partiremos dessas duas analogias para explicar a questão por que nem todos os membros de igreja experimentam o Novo Nascimento.

Todos sabem que o aborto é o assassinato de um bebê em formação. Esse aborto pode ocorrer por inúmeras razões (naturais ou planejadas). A pessoa que comete o aborto o faz tendo em vista o impedimento do nascimento, mesmo que o feto esteja total ou parcialmente formado. Em seu último sermão Estevão falou contra os homens de sua época que viviam impedindo que sua velha natureza perecesse para viverem o Novo Nascimento.

Eis a denúncia de Estevão: “Homens de dura serviz e incircuncisos de coração e de ouvidos, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim como fizeram vossos pais, também vós o fazeis .” Tal como resistir o crescimento de um feto em formação resulta em aborto, também a resistência ao Espírito de Deus resulta em aborto do novo homem. Nenhum homem nasce de novo se seus atos forem fontes de resistência à atuação divina.

Com vistas nessas semelhanças a nossa compreensão ganha elementos para aceitar a questão de o Novo Nascimento não tomar lugar na vida de todos, mesmo que eles sejam membros dedicados em suas comunidades. Cristo pode ser formado parcialmente em algumas pessoas e mesmo assim elas abortarem a possibilidade de Ele ser formado totalmente a ponto de fazer-lhes nascer de novo para uma vida semelhante à de Cristo.

Seguindo essa linha de raciocínio o apóstolo Paulo escreve aos gálatas: “Meus filhinhos, por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em vós ;” De modo semelhante, Cristo é “mal formado” em alguns crentes e essa má formação além impedi-los de mudar de vida e serem recipientes da vontade divina ainda os impede de viver o Novo Nascimento, pois fetos mal desenvolvidos não nascem!

2. O Novo Nascimento é o resultado permanente do batismo com o Espírito Santo.

“Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que abunde a graça? De modo nenhum. Nós, que já morremos para o pecado, como viveremos ainda nele? Ou, porventura, ignorais que todos quantos fomos batizados em Cristo Jesus fomos batizados na sua morte? Fomos, pois, sepultados com ele pelo batismo na morte, para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim andemos nós também em novidade de vida.

Porque, se temos sido unidos a ele na semelhança da sua morte, certamente também o seremos na semelhança da sua ressurreição; sabendo isto, que o nosso homem velho foi crucificado com ele, para que o corpo do pecado fosse desfeito, a fim de não servirmos mais ao pecado. Pois quem está morto está justificado do pecado. Ora, se já morremos com Cristo, cremos que também com ele viveremos, sabendo que, tendo Cristo ressurgido dentre os mortos, já não morre mais; a morte não mais tem domínio sobre ele.

Pois quanto a ter morrido, de uma vez por todas morreu para o pecado, mas quanto a viver, vive para Deus. Assim também vós considerai-vos como mortos para o pecado, mas vivos para Deus, em Cristo Jesus. Não reine, portanto, o pecado em vosso corpo mortal, para obedecerdes às suas concupiscências; nem tampouco apresenteis os vossos membros ao pecado como instrumentos de iniquidade; mas apresentai-vos a Deus, como redivivos dentre os mortos, e os vossos membros a Deus, como instrumentos de justiça. Pois o pecado não terá domínio sobre vós, porquanto não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça .”

Esse texto não é (como alguns defendem) uma alusão ao batismo com água, isso pode ser facilmente percebido pelo fato de Paulo associar a esse batismo uma transformação de vida que o batismo com água não é páreo para efetuar. Mas é uma explicação profunda e didática sobre o batismo com o Espírito; entretanto, o batismo com água deve ser recebido por quem realmente nasceu de novo, caso contrário será um mero banho religioso e não uma ordenança divina.

Sem o batismo com o Espírito nenhuma ação religiosa é espiritual ou proveitosa! Em Atos 19 Lucas relata o fato de Paulo haver rebatizado um grupo de uns doze irmãos que, embora já tivessem sido batizados por João Batista não tinha recebido a ordenança como fruto do arrependimento genuíno e nem da conversão. Após terem sido batizados, receberam do Espírito alguns dons.

O Novo Nascimento é o resultado permanente do batismo com o Espírito Santo, não aquele que alguns alegam ter recebido porque falou em outras línguas, mas aquele que após ele segue uma mudança completa em todos os aspectos da vida.

O Novo Nascimento e o batismo com o Espírito Santo estão total e inseparavelmente associados. Só quem recebeu o batismo com o Espírito Santo nasceu de novo! Da mesma forma, quem não recebeu o batismo citado, jamais poderá experimentar mudanças reais na sua vida. O Espírito Santo é o fogo que refina o ouro e o Novo Nascimento é como fica o ouro depois de refinado: limpo e com um valor superior. Como o batismo com o Espírito ocorre apenas uma vez ele pode ser comparado ao parto.

Duas razões para essa comparação: primeira porque gera um novo ser e segunda porque desliga a nova criatura do cordão umbilical que o sustentava. Pelo batismo com o Espírito, nos tornamos uma nova espécie, a espécie dos santos e perdemos a dependência que tínhamos dos rudimentos deste mundo. O batismo com o Espírito é o fator diferencial entre cristãos autênticos e pessoas meramente assíduas nas igrejas.

O Novo Nascimento gera dentro do homem uma disposição para agradar a Deus de modo incondicional. Há um poder extraordinário efetivado nestes Filhos de Deus. Esse poder os leva a viver uma vida numa instância mui elevada. E, sobretudo, quem nasce de novo vive a nova vida com prazer e satisfação profundos e nada pode-lhes demover dessa graciosa e indizível vida.

Não quero me prolongar neste capitulo, mas acredito que os dois pontos acima postos merecem diligente reflexão e penso que eles são satisfatoriamente suficientes para responder a questão maior desse tópico.

(Extraído do livro A NATUREZA DO HOMEM E O NOVO NASCIMENTO do Missionário Rosivaldo)

As opiniões expressas nos textos publicados são de responsabilidade dos autores.

autor

Missionário Rosivaldo

Missionário Rosivaldo

Missionário formado pela JOCUM – Jovens Com Uma Missão, uma organização cristã missionaria que atua em todas as nações do mundo. Pastoreou a igreja Batista em Lagoa do Peri-peri – AL. Escreveu diversos livros. Educador cristão há vários anos. Casado com Fernanda Laurindo. Baixe grátis o livro “MÁ ADMINISTRAÇÃO DOS DÍZIMOS E OFERTAS” no site www.gospelmais.com.br.

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